O relatório final da Polícia Federal confirma a existência do mensalão, um esquema de corrupção no governo do ex-presidente Lula que pagava a parlamentares para aprovarem projetos de interesse do Planalto. A afirmação está na edição do final de semana da revista Época, que diz ter tido acesso às conclusões da PF.
Segundo a revista, foi a pedido do hoje ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) que a Polícia Federal produziu sigilosamente um documento de 332 páginas, que encerra seis anos de investigações. A reportagem diz que a PF “vasculhou centenas de contas bancárias, esmiuçou dezenas de documentos internos das empresas envolvidas no esquema e ouviu cerca de 100 testemunhas”.
O mensalão teria envolvido cinco partidos, dezenas de parlamentares, centenas de contas bancárias e compra maciça de apoio político no Congresso, o que faria deste o “maior esquema de corrupção já descoberto no país”.
Presidente Lula
As investigações teriam encontrado “o elo mais grave do esquema do valerioduto: a conexão com o ex-presidente Lula”. O segurança pessoal dele, Freud Godoy, confessou à PF que recebeu R$ 98 mil do publicitário Marcos Valério, considerado o operador do mensalão.
Godoy disse em seu depoimento que se tratava de pagamento dos serviços de segurança prestados a Lula na campanha de 2002 e durante a transição para a Presidência, mas ele nega que tenha tido contato com Valério.
O relatório também complica mais 17 pessoas, como o atual ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Segundo o relatório, o tesoureiro de sua campanha vitoriosa à Prefeitura de Belo Horizonte, em 2004, Rodrigo Barroso Fernandes, recebeu um cheque de R$ 247 mil de uma das contas da SMP&B (agência de Marcos Valério) no Banco Rural. Pimentel disse que só comentaria depois de ler o relatório.
Os mensaleiros também teriam contato com o banqueiro Daniel Dantas, que já foi preso pela PF. Segundo o relatório, ele recebeu de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT e o homem que distribuiria o dinheiro, um pedido de ajuda financeira: R$ 83,3 milhões (US$ 50 milhões) para quitar dívidas petistas. Segundo a PF, a propina foi aceita.
A matéria diz que existiam duas fontes de recursos para bancar o mensalão: uma, a principal, era em dinheiro público vindo dos contratos do publicitário com ministérios e estatais. O principal canal de desvio era o Banco do Brasil, em um fundo de publicidade chamado Visanet, que cuidava do marketing do cartão da bandeira Visa. Mesmo que as agências de Marcos Valério fizessem algumas ações publicitárias, o grosso do dinheiro repassado pelo governo servira para abastecer o mensalão. A segunda fonte viria de contratos com empresas dispostas a se aproximar da Presidência da República, como o Banco Rural.
Os valores saiam de duas contas de Marcos Valério no Banco do Brasil, ia para o Banco Rural e, em seguida, era repassado aos beneficiários. O fundo Visanet teria repassado R$ 68 milhões. Ao todo, cerca de R$ 350 milhões teriam sido recebidos pelas empresas de Valério do governo Lula.
O relatório já está com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e deverá seguir para o gabinete do ministro Joaquim Barbosa, o relator do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
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